sábado, 28 de novembro de 2009

Desejo Por Uma Sociedade Menos Cínica


Shopping. Lá está uma família em mais um domingo em direção a uma sessão do filme mais esperado do ano. Os pais andam abraçados e sorriem enquanto fazem comentários sobre um livro em uma loja de departamentos, o filho mais velho liga para a namorada e marca um dia para saírem com a irmã mais nova que se preocupa com a data de lançamento do novo CD do “cantor gato” do mês. Tudo parece bem e tudo parece bem, mas será que está tudo bem?
Nossa sociedade nos pressiona cada vez mais a viver uma vida feita pura e exclusivamente de aparências. “Se você está bem exteriormente, então está bem interiormente, pois os dois sempre andam juntos.” Foi o que uma amiga minha um dia me disse e, para não criar desavenças, concordei e mudamos de assunto. Mas estas palavras ficaram por muito tempo em minha cabeça e cheguei à conclusão de que minha amiga estava, até certo ponto, certa, pois se você está satisfeito com o que fez, faz e ainda fará em sua vida, há uma grande possibilidade de que você cuide bem de sua aparência. Mas este é um processo que segue o curso de dentro para fora, o que se aplica às palavras de minha amiga. Já o processo inverso, não.
O processo que segue o percurso fora – dentro é mais complicado: você se veste bem, vai à academia regularmente, tem amigos, vai ás melhores festas das pessoas mais sofisticadas, mas quando se olha no espelho tudo parece estar errado. Você pisca e, aparentemente, essa preocupação desaparece e tudo parece voltar ao normal. Posso lhe dar uma má notícia? Se você passa por isso com freqüência, nem tudo está bem.
O que chamamos de realização é a obtenção de sucesso em tudo o que se faz tanto na carreira profissional quanto na vida pessoal. Pessoas que se sentem realizadas tendem a julgar outras pessoas que se perderam na vida como ladrões ou traficantes de drogas. Pessoas pobres que não tiveram acesso às melhores escolas e escolhas, certo? Nem sempre. Há, hoje em dia, o conhecimento de jovens que se transformaram nos chefes do crime organizado que descendem de famílias ricas. Pergunta-se, então, o que aconteceu na vida destas pessoas para que lhe cegassem a ponto de não verem que têm tudo que precisam para serem felizes. Quero dizer, tudo o que esta sociedade baseada em aparências nos faz acreditar ser o suficiente para criar um ser humano digno e honesto.
Quando uma família se expõe à visão pública, ela se comporta de maneira correta: os pais se amam e seus filhos os obedecem inquestionavelmente. Mas ao fecharem os portões da casa, os problemas saem dos armários em que foram trancados e voltam a tomar conta de cada membro da família. Às vezes chego a pensar que os problemas que os atordoam em momento algum realmente os deixam. Filhos voltam a desobedecer e a questionar pais que, por terem tal título, se acham no direito de dizer o que sua prole tem que (repare, não deve) fazer. Com isso, há pressão nestes jovens que, embora queiram agradar seus pais, sabem que o querem fazer da vida é completamente diferente da vontade de seus pais/generais.
Acontece que estudos feitos em universidades das principais capitais dos EUA alegam que esta carga de responsabilidades que cada um de nós, jovens, toma para si pode nos levar a desenvolver patologias psicológicas (distúrbios alimentares, dentre vários) que têm um sintoma em geral: a rebeldia. Esta rebeldia cega de tal forma que faz com que esqueçamos dos nossos objetivos e daqueles sonhos que os pais querem realizar através de seus filhos. Este sentimento de rebeldia leva estes atormentados jovens a fazerem de tudo para ir contra os desejos e “boas aparências” da sociedade.
A origem de todos esses problemas encontra-se na aparente falta de capacidade do ser humano de não se importar com o que os outros irão pensar de cada ação sua. Vários problemas, como os aqui citados, poderiam ser evitados se toda família educasse seus filhos balanceando o certo com as possibilidades de erros, pois é com estes que todos aprendem as lições de como viver essa vida que se encontra em meio de tantos desafios. Estes que podem nos derrotar, mas se fôssemos um pouco mais altruístas, os jovens que foram desviados podem voltar após outro erro ao conforto de famílias que não se importam com o fato de que seus filhos erraram e sim com quanto amor e cuidado elas têm que dar a seus rebentos para que eles voltem a se olhar no espelho e não ter a sensação de estar tudo certo, mas ter a certeza.